segunda-feira, 30 de março de 2015

Pirando



      Já faz um tempo que resolvi pirar. Assim, do nada mesmo, enlouquecer de vez. Sair por aí correndo de pantufas e frutas na cabeça sem importar-me com as opiniões alheias. "Essa aí é louca mesmo, liga não",  comentam quando passo. Pirar não deixa de ser um pouco didático, na sua zetética própria(palavras da coleção primavera-verão 2015). Faz questionar paradigmas, mesmo que inconscientemente ou ridiculamente - afinal, o que há de errado em cantar Wando no meio da praça usando uma banana de microfone?
            O negócio que ninguém te fala é que a loucura é libertadora. Liberta do julgamento e das expectativas sociais, afinal, ninguém espera nada de um louco a não ser que tenha endoidecido também. Liberta daquilo que chamamos de sociedade ordinária e seus costumes opressores (para usar a palavra da moda).
       Você  acaba por colocar as coisas em perspectiva. Nenhum compromisso imposto pela sociedade é tão sério que sua vida dependa dele. Não vale a pena tanto estresse para tão poucos resultados práticos.  Mas no meio de tantas ocupações, aí sim, deveríamos ficar loucos. Porque tempo para tudo isso, nem com 36h por dia.
       E como não temos tempo, não surtamos, e vamos seguindo, com essa loucura meio presa na garganta, entupindo a fala de vez em quando. Sem tempo para pirar, a que ponto chegamos? Um desespero aqui, um arrancar de cabelos acolá, nunca por completo. Somos não mais que uma sociedade de meio-lunáticos enrustidos, e por isso infelizes.
       Eu não. Pirei mesmo, sem meias palavras. Quero curtir a minha crise existencial até me  acabar. Quero gritar, chorar e subir pelas paredes. Pirar sem vergonha ou medo. Viver, acima de tudo, tudo o que sentir ( e hoje parece que sentimos tão pouco...) Até que um dia a crise se esgote e passe. Pirar é viver muito mais do que aqueles que -coitados- nunca se permitiram uma loucurazinha. Esses, existem apenas, nada mais irracional. E entre ser são e existir e ser louco e viver, eu escolho a loucura, que se não mais certa,pelo menos é mais interessante. 



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